O sonho acabou ... Agora, é recolher os cacos e começar de novo. Dinheiro fácil não existe!
A insustentável progressão geométrica de um esquema em pirâmide clássico.
Os leitores desta Revista são pessoas esclarecidas, fazem parte daqueles 3% que, segundo Francisco Daudt, na Folha de S. Paulo, não são patetas:
“... o fato de que a imensa maioria da população mundial é composta de patetas... Diria que são 97% --um percentual "impressionista", não "cientificamente embasado". São simplórios, pessoas reativas, sem capacidade de reflexão, imediatistas. Deixam que a vida (ou o pastor, o partido ou a opinião dos outros) as leve. Quem chegou até aqui na leitura não está com eles, e sim nos outros 3%. Agarram-se de maneira inconsciente ao que "já está decidido, resolvido e pensado", por isso "não esquentam a cabeça".
O esquema de pirâmide pode ser mascarado com o nome de outros modelos comerciais que fazem vendas cruzadas legais. A maioria dos esquemas em pirâmide tira vantagem da confusão entre negócios autênticos e golpes complicados, mas convincentes, para fazer dinheiro fácil. A ideia básica por trás do golpe é que o indivíduo faz um único pagamento, mas recebe a promessa de que, de alguma forma, irá receber benefícios exponenciais de outras pessoas como recompensa. Um exemplo comum pode ser a oferta de que, por uma comissão, a vítima poderá fazer a mesma oferta a outras pessoas. Cada venda inclui uma comissão para o vendedor original.
As pessoas na pior situação são aquelas na base da pirâmide: aquelas que assinaram o plano, mas não são capazes de recrutar quaisquer outros seguidores.
O começo....
Os esquemas em pirâmide ocorrem em muitas variações. Os primeiros esquemas envolviam uma corrente postal, distribuída com uma lista de 5–10 nomes e respectivos endereços. Ao destinatário era dito que enviasse uma pequena quantia de dinheiro para a primeira pessoa da lista. O destinatário então removeria esta primeira pessoa da lista, moveria todos os nomes restantes para cima uma posição e acrescentaria o seu próprio nome (e possivelmente outros nomes) à parte de baixo da lista. Então, ele enviaria uma cópia da carta com a nova lista de nomes para os indivíduos listados. Esperava-se que este procedimento fosse repetido e repassado e então o destinatário original seria movido para o topo da lista e passaria a receber dinheiro de outros destinatários da corrente.
Ponzi, o inventor do esquema de pirâmide financeira
Os casos mais famosos são de Ponzi e Bernard Madoff, mas cada cidade tem seu “Ponzi”.
Há incontáveis casos de pirâmides financeiras que deixaram milhões de investidores no prejuízo. Na década de 20, nos EUA, o imigrante italiano Charles Ponzi montou um esquema que oferecia uma rentabilidade de 50% em 45 dias. O negócio consistia em trocar cupons postais por selos dos Estados Unidos, a um preço mais elevado. Mais de 17 mil pessoas tiveram perdas. Ele foi preso, cumpriu pena e em 1949 morreu pobre no Rio de Janeiro.
No fim dos anos 2000, um dos mais brilhantes investidores de Wall Street, Bernard Madoff arrecadou bilhões de dólares de investidores, entre eles celebridades, como Steven Spielberg, gente do mercado financeiro, bancos e até brasileiros, prometendo uma retorno de 1% ao mês. Parte dos recursos nem foi investida. O dinheiro que entrava pagava aqueles que pediam resgate. Foram 16 mil investidores em 16 anos de atividade. Em 2009, ele foi condenado a 150 anos de prisão, entre outros crimes por fraude financeira.
Identificando
A característica distintiva destes esquemas é que o produto vendido tem pouco ou nenhum valor intrínseco ou é vendido por um preço fora da realidade do seu valor de mercado. Entre os exemplos, "produtos" tais como brochuras, fitas cassete ou sistemas que meramente explicam ao comprador como arregimentar novos membros, ou a compra de listas de nomes e endereços de
possíveis candidatos. Outro exemplo é um produto (como um modem dial-up que pretensamente usa alta velocidade e/ou Voip), vendido por um valor acima do preço médio de mercado para produto igual ou similar, em qualquer parte. O resultado é que somente uma pessoa envolvida com o esquema seria capaz de comprá-lo e o único modo de fazer dinheiro é recrutar mais e mais pessoas, que também pagarão mais do que deveriam. Este valor adicional pago é então usado para embasar o esquema da pirâmide. Efetivamente, o esquema é bancado muito mais pelas compras superfaturadas dos novos associados do que pela "taxa de adesão" inicial.
Saturação de mercado
Todos os esquemas exigem que uma pessoa recrute duas outras, que devem recrutar outras duas, que devem recrutar duas outras etc. Versões prévias deste golpe foram chamadas de "Golpe do Avião" e os quatro níveis foram rotulados de "comandante", "co-piloto", "tripulação" e "passageiro" para indicar o nível da pessoa: cada um dos oito passageiros deve pagar (ou "doar") certa quantia (por exemplo 2 mil reais) para se juntar ao esquema. Esta quantia (neste caso, R$ 16.000) vai para o comandante, que sai do esquema, com os níveis abaixo dele subindo um degrau. Agora existem dois novos comandantes, de modo que o grupo se divide em dois, cada um exigindo oito novos passageiros. Uma pessoa que se junte ao esquema como passageiro não terá qualquer retorno financeiro a menos que saia dele como comandante. Isto exige que, abaixo dele, outras 14 pessoas tenham de ser persuadidas a se associar. Desta forma, os três níveis inferiores da pirâmide sempre perdem o dinheiro investido quando o esquema finalmente entra em colapso.
O Marketing Multinível (MMN) funciona recrutando pessoas para vender, divulgar ou consumir um produto. Recebe comissão em forma de bônus quem recruta pessoas para vender ou representar seus produtos, como seus "downlines" (ou "parceiros de negócio"). Pode ser exigido dos novos associados que paguem pelo treinamento/material de propaganda, ou que comprem uma grande quantidade dos produtos para o sistema que irão vender. Um teste de legalidade utilizado amiúde é verificar o MMN ou empresa.
No Brasil
Fundado em Goiânia em 1998, o grupo Avestruz Master oferecia contratos de compra e venda de avestruzes com compromisso de recompra dos animais. Assim, quem investisse em uma ave com 18 meses de vida, ganharia um retorno de 10% sobre a aplicação até o mês em que a avestruz fosse readquirida pela empresa. O lucro seria assegurado pela suposta exportação da carne. Mas o negócio propriamente dito jamais chegou a ir para frente: em sete anos de operação, nenhuma ave foi abatida. Na teoria, a Avestruz Master teria comercializado mais de 600 mil animais. Na prática, só possuía 38 mil. Apostando antes na propaganda do que nas aves em si, o grupo conquistou 40.000 investidores no Brasil, 30.000 deles só no estado de Goiás. Para engordar a base da pirâmide, foram gastos 4 milhões de reais em publicidade em 2004 - e apenas 100.000 reais em ração para as avestruzes. Quando a pirâmide ruiu em 2005, a empresa fechou as portas e seus sócios fugiram para o Paraguai. Em 2010, a Justiça Federal condenou os dois filhos e o genro do dono da Avestruz Master a indenizar os investidores em 100 milhões de reais. Jerson Maciel, controlador do grupo, morrera dois anos antes da decisão. Os acusados também receberam penas de 12 a 13 anos de prisão. A execução da indenização, contudo, só irá acontecer quando todos os recursos judiciais tiverem se esgotado. Se executada, ela não será suficiente para cobrir o prejuízo total amargado pelos investidores, estimado em 1 bilhão de reais.
Acusado de provocar um prejuízo que beira 100 milhões de reais, o mineiro Thales Emmanuelle Maioline montou seu esquema de Ponzi em Belo Horizonte. O produto oferecido - e comprado por 2.000 investidores - era a participação em um Fundo de Investimento Capitalizado (Ficap), que só existia de fato no site da empresa criada por ele, a Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros. Como os demais golpes do tipo, o fundo prometia um retorno de 5% ao mês acrescido de um bônus semestral. Mas depois que um investidor solicitou o resgate de 3 milhões de reais em julho de 2010, a pirâmide não conseguiu se manter de pé. Maioline desapareceu por 140 dias, sendo preso em dezembro de 2010.
O que se passa na mente dos escroques financeiros?
No seu livro "The Ponzi Scheme Puzzle: A History and Analysis of Con Artists and Victims" ["O Enigma da Pirâmide: História e Análise de Vigaristas e Vítimas"], um livro Tamar Frankel estuda o assunto. Eis parte de sua entrevista
P. Algumas vítimas de Bernard Madoff sentem que justificadamente depositaram sua confiança em um veterano do mercado. Então, onde está a linha entre confiança justificada e credulidade irracional?
R. Como eu noto no meu livro, muitos vigaristas fazem parecer que limitam o acesso a seus investimentos, disponibilizando-os apenas para alguns escolhidos. Mas, racionalmente, por que um administrador de dinheiro faria isso? Olhe ao redor e verá fundos hedge, fundos mútuos, fundos de capitais privados e assessores, todos salivando para conseguir mais clientes. No entanto, há aqueles que acreditam que quanto mais difícil for entrar em um investimento, mais valioso ele é. Isso é credulidade.
P. Madoff não prometeu retornos estratosféricos - ele apenas ofereceu uma consistência estável. A senhora não acha que os futuros fraudadores vão tirar uma lição do roteiro de Madoff?
R. Eu duvido. As pessoas estão mais preocupadas com os riscos do que estavam antes da crise. Mas os fraudadores não adaptam suas histórias à cultura atual e ao sentimento público, eles sobretudo se concentram em seu público-alvo. Por exemplo, um estelionatário que operou uma organização de caridade atraiu organizações semelhantes com a história de que um doador anônimo faria investimentos iguais aos deles. Essa história foi convincente porque os gerentes das instituições de caridade têm doadores que desejam permanecer anônimos.
(Texto produzido de acordo com artigos de diversos autores, disponíveis na internet). Artigo originalmente publicado na REVISTA DO TETZNER
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