Sua figura era patética. Com uma criança nos braços, lembrava uma daquelas fotos heroicas do Vietnã - um refugiado das bombas buscando salvar um irmãozinho. Estamos em Petrópolis, Rio de Janeiro. As chuvas caem intermitentemente há 72 horas. Os morros não resistem: derretem-se como flocos de neve ao sol; as estradas estão entupidas, as pontes ruíram, regiões intransitáveis, 50, talvez 70 pessoas mortas na enchente.
Jamil Moanes Antônio Luminato esta em casa, seguro, junto com seus 11 irmãos. Mas da janela vê o morro ruir-se e assustar alguns casebres, menos seguros que o seu. Sai de casa, vai prestar auxilio, sem saber como, sem saber mesmo que ele próprio possa correr perigo, deixando o abrigo seguro de seu barraco. Vê uma senhora caída, uma criança ao lado. A criança sangra pelo nariz, ele a apanha e sai gritando por socorro.
Jamil encontra um motorista de táxi: Aos prantos, pede que leve a criança a um hospital. Tocado pela coragem do garoto, o motorista apanha a criança, sente-a rígida, sem respiração: está morta. Não tem coragem de dizer ao garoto, que pensa ser o irmão. Vira o rosto e começa a soluçar. O garoto, crendo salva esta criança, volta ao local para apanhar a mãe: não a encontra mais - as águas e a lama tudo tinham encoberto.
É neste momento que o fotografo Carlos Mesquita, do Jornal do Brasil, registra o fato para a posteridade. No dia seguinte, localizado por um repórter, Jamil declarou porque sob risco da própria vida foi ajudar os outros: - Eu apenas me preocupo com gente..
O RENOVADOR-Laguna
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