Aquelas arcadas eram suntuosas, mas nos pareciam assustadoras no primeiro dia da matrícula; eram frias nas manhãs do inverno; lúgubres nas férias. Mas alegres, barulhentas, comunicativas, repletas de vida na maior parte do ano. Foi ali que padres da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, no começo, e professores laicos, depois, forjaram gerações de professores, médicos, juristas que se espalharam por esse Brasil a fora.
Em 1947, com o apoio dos visionários de sempre (os irmãos Zumblick, os Tonelli, Campelli, Régis, tantos outros sobre os quais a cortina do tempo não se fecha mas a memória falha), os padres que ali aportaram fundaram, edificaram e instalaram as primeiras salas do então Ginásio Sagrado Coração de Jesus, mais tarde Colégio Dehon (1957, na margem esquerda do Rio Tubarão.
Foi no ensino, embora pago mas acessível, que se juntavam filhos de profissionais liberais e agricultores, do comércio e de serviços, da cidade e de toda a região Sul: era o único ginásio e, depois, o único colégio para rapazes no Sul do Estado. As amizades se consolidavam através dos apelidos – alguns carinhosos, outros pura maldade: Laranja, Banana, Minhoca, Tucano, Cegonha, Sapo, Velha, Budina, Maracanã, Lobão, Babá-Chupa-Ovo...
Em Tubarão, o tradicional Colégio Dehon completa 50 anos agora dia 16. Rara oportunidade para uma reflexão coletiva. Criamos um centro de debates (Centro Cultural Teixeira Nunes) e a União Estudantil Tubaronense, que pretendíamos alojar no Recanto do Tubanharon; o jornal estudantil O LIDER, um programa na Rádio Tuba; colunas nos jornais A IMPRENSA do Manoel Aguiar (nossa primeira escola de jornalismo) e na A VERDADE, do pai do Cacau Menezes.
Ao longo dos anos aqueles apelidos foram sendo trocados por nomes que se tornariam famosos na medicina, na literatura, na política, na indústria... Como é natural que alguns ginasianos tenham ficado pelo caminho já que a Faculdade era um meio e não um fim.
Existem escritas nas arcadas da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco em São Paulo os versos famosos Quando se sente bater/ No peito heróica batida/ Se deixa a folha dobrada/ Enquanto se vai morrer...
Não éramos tão revolucionários assim. Mais ingênuos, mais puros, mas não menos idealistas, nossa pele arrepiava quando entoávamos, orgulhosos, o vibrante hino do Padre João: Ginasianos, tubaronenses/ Marchemos firme na vanguarda pelo sul/ Erguendo altivos, catarinenses/ O nome lindo de Cidade Azul...
*Artigo escrito para o Jornal Diário Catarinense - Florianópolis/SC
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