Tribos nativas que viviam em ambiente recluso, sem troca de informações e sem conhecer outros hábitos, desenvolvem costumes que nós achamos bizarros. Pessoas que dizem sim quando querem dizer não, que andam para traz e se banham cobrindo-se de terra... Vamos contar alguns casos desses povos primitivos, isolados e sem acesso à TV mas que se creem espertos no meio de 130 milhões de pessoas. As ruas brasileiras estão tomadas pela violência e pela criminalidade. A grave crise econômica e seus desatinos, do qual a face mais cruel e mais visível é o desemprego; a migração interna; o relaxamento dos costumes; a impunidade - muita coisa junta que induz à delinquência, seja pelos furtos e prostituição até aos assaltos com violência e morte.
Como autodefesa, as pessoas contratam vigilantes, geralmente agrupados em Guardas Noturnas, onde cada residência protegida paga uma contribuição mensal. Pois a PM carioca está prendendo os guardas, alegando que policiamento ostensivo é privativo das Forças Regulares do Estado. Ou seja, deixam as ruas e a praças livres para os criminosos. Já está irritado? Recomendo que passe a rir,, pois tem mais e se você vier a ter úlcera corre o risco de não ter médico para lhe atender. Ninguém ignora que a crise ataca todas as carreiras profissionais, com o equivocado achatamento salarial (o governo determina que se pague menos para que a inflação caia mas a inflação sobe). No lugar de tratar dos doentes os médicos cariocas fazem greve por “melhores condições de trabalho”. Mas obrigar um doente a voltar para casa sem nenhum atendimento é debochar do público.
Nelson Senise, respeitado médico carioca, reclama de seus colegas: traição ao juramento de Hipocrates, traição ao povo que o remunera; traição às leis do país. Como nem toda tragédia vem sozinha, ou porque vivemos num país surrealista, mais uma para concluir: funcionários paralisaram a Justiça alegando salário insuficiente. O juizado de menores tem um gabinete na Rodoviária onde fornece autorização de viagem para menor desacompanhado. Pois durante a última semana santa, quando 300 mil pessoas deixavam o Rio por aquela estação, o pessoal do juizado não foi trabalhar, alegando que só voltariam se o Estado fornecesse estacionamento gratuito para seus automóveis. Mas eles não se queixam do baixo salário? Como podem ir trabalhar de automóvel? O leitor, por certo, encontrará no seu dia a dia exemplos gritantes de desserviço público mas que não levam mais à exasperação, pela capacidade que se perde de nos indignar. O consolo é poder denunciar, ironia à parte, pois o País também nunca usufruiu de tamanha liberdade.
* Cobertura (Fpolis, SC)
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