Os jornalistas aprendem cedo que ‘cachorro mordendo um homem não é notícia; notícia é homem mordendo um cachorro’. A informação pode fazer a glória de um “socialite”, desfazer a honra de um político, a fortuna de um empresário.
O jornalismo é uma profissão ingrata, enganadora, manipuladora, omissa e pretensiosa., mas é também uma profissão difícil de abandonar, pois todos adoram colocar em forma de letra impressa a versão manipuladora, enganosa e pretensiosa. Coloque-se no meu lugar, querido leitor, e se veja redigindo umas doze notas por dia, sete dias por semana, quatro semanas por mês, doze meses por ano, vinte anos seguidos e terá uma ideia do que elogiar e criticar. O elogiado se sentirá sempre,merecedor de sua glória e logo se esquece, ingrato. O mordido nunca esquecerá a infeliz nota que o embaraça. Quantas vezes gostaríamos de retornar as horas do relógio, retornando no tempo e refazer a infeliz nota? É por isso que, além do conforto do apoio incondicional da família, vou buscar na poesia de Fernando Pessoa o bálsamo que me ajuda a enfrentar mais um fim de semana espinhoso como este: “Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos/ É saber falar de si mesmo/ É ter coragem para ouvir um “não” / É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta/ Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...”.
O ESTADO DO PARANÁ. Curitiba, 17 de julho de 1963
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