Antônio da Cruz não sabia nadar, mas atirou-se ao mar da Joaquina, morrendo ao tentar salvar o filho Wesley, que estava se afogando. No Rio de Janeiro, Jefferson Silva de Andrade se lançou sobre o corpo da filhinha, no meio a uma troca de tiros entre policiais e traficantes, morrendo baleado. Pai herói existe neste país afora, nós só não percebemos porque achamos tudo natural. Como aquele pai que, quando criança, achamos gigante, sábio, justo, a fonte de histórias vividas, mesmo exageradas, que nos fornece segurança, que distribui justiça com afeto, que nos perigos nos protege, que na tristeza nos alegra. Se um garoto mais forte nos ameaça, sabemos que nosso pai vai lá e dá uma surra no seu pai e ele nunca mais vai nos incomodar.
Se tiver pão no café e bife no almoço, nem tomamos conhecimento de seus problemas - estresse, medo do desemprego, colesterol, pressão, aluguel, escola, lazer, roupas, passeios, férias, supermercado, farmácia, médico, dentista, gasolina, oficina, TV a cabo, telefone, internet, prestações, condomínio, IPTU. Como não imaginamos que ele possa ter problemas, também não perguntamos se ele precisa de colo, de ajuda, de um favor. E quando adultos, percebemos que ele não é tão alto, que já não é capaz de afrontar qualquer desafeto nem tão sábio que não cometa seus erros.
Mas como saber se, ao nos ver crescidos, ele apenas não deixou de lado o tremendo esforço que fez a vida toda para nos dar amor, conforto e segurança e, agora, alquebrado, assume seu verdadeiro papel de simples homem?
Enquanto vivemos na primavera da vida a estrada trilhada não passa de uma lembrança. Mas quando nos defrontarmos com nossos próprios filhos, teremos sido uma sombra do que ele foi?
NOTA escrita para coluna Cacau Menezes - Diário Catarinense - Florianópolis/SC
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