Um dos aspectos mais respeitáveis nas pessoas inteligentes é a capacidade de antever o futuro, com uma clareza de discurso simples e objetivo. Assim é Willy Zumblick, ontem retratado neste Diário Catarinense pelo reitor da UDESC, a propósito dos 83 anos do grande pintor. Estávamos em 1957 e eu era presidente da União Estudantil Tubaronense (UET) e, com um grupo de sonhadores, pretendíamos construir o “Recanto do Tubanharon”, uma casa de cultura que acumularia biblioteca, discoteca, salas de estudos e conferências. Seria na Praça Centenário, no centro de Tubarão. Homem público e dedicado, Zumblick me procurou e disse: “Eu forneço 2 mil tijolos. Mas recomendo que vocês construam o Recanto na curva do rio... “
Naquela época Tubarão dividia-se maniqueisticamente em “antes do trilho” e “depois do trilho”, numa alusão à linha férrea que cortava a cidade em uma zona norte - dos ricos, e zona sul - dos operários da Estrada de Ferro Tereza Cristina. A sugestão de Zumblick mandava-nos para o Bairro de Oficinas, para “depois do trilho”. A ideia não me seduziu mas registrei a doação dos 2 mil tijolos. Os anos passaram, a união estudantil morreu por anorexia e as pedras foram surgindo no meio do caminho da turma que teve de se dispersar. Primeiro foi a indefectível mudança de cidade em busca do diploma, depois os anos de chumbo da década 64/74, com a inconsequente perda de identidade de toda uma geração que se tornou descrente e cínica (acreditávamos sinceramente que “fora de nós não há salvação”), tudo ao mesmo tempo, como pedidos no tempo, sem espaço nem auto-estimas e até sem identidade, vítimas de uma diáspora dentro do próprio país, se isso é possível.
A cidade de Tubarão, contudo, cresceu para o sul. Isto é, além do reconhecido pintor, Willy Zumblick estar muito adiante do seu tempo, papel que o filho Raimundo não registrou no artigo de ontem. (Publicação: Diário Catarinense).
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