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Vanio Coelho

VANIO COELHO

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A caça ao marido

Atualizado: 22 de set. de 2019



No Brasil, anualmente, mulheres completam 20 anos e querem se casar, mas dessas, 150.000 estarão condenadas a permanecer solteiras. Quer pela falta de homens - o número de mulheres é superior -, quer pela pouca vontade de casas de muitos, a instituição do casamento tornou-se pesado ônus para a solteira, embora uma segurança para a casada. Quais os melhores ambientes para encontrar maridos em potencial? Quais os métodos a serem empregados para a conquista e, principalmente, como achar o homem ideal? - perguntam milhares de jovens. A essa curiosidade (necessária) a caça do marido. Desde os primeiros anos, os parentes olham a garotinha e já perguntam “com quem ela irá casar”. Nas ruas os adultos a chamam de “minha noiva”, mesmo que ela só tenha seis anos. Com 13, ela já terá criado um tipo ideal de homem, que com o tempo irá se adaptando ao real, ao homem encontrável, à média geral dos homens que vivem em sua coletividade. Desde que Voltaire, com seu Dicionário Filosófico, estabeleceu a definição individual do belo (para os japoneses, por exemplo, Nossa Senhora teria olhos rasgados e rosto redondo), a mulher começa a incluir no seu tipo ideal de homem a beleza física, a inteligência, mas, também, o dinheiro e a posição social.


ONDE ESTÃO OS MELHORES MARIDOS


Pesquisas feitas pelo Instituto Francês de Opinião Pública entre jovens casais permitiram constatar que 15% dos conhecimentos de amizade que levaram ao matrimônio se deram durante uma dança, em baile público, clube social ou festinha particular. As danças, por isso, começam cedo para a menina. A mocinha com 13 anos, já as mães começam a providenciar o intercâmbio de patrocínio de festinhas, aonde só vão rapazes escolhidos a dedo. As circunstâncias fortuitas apresentam também grandes oportunidades. É a olhadela, na condução; é o lugar reservado, no cinema; é o telefonema “casual”. Enfim, estariam errados os poetas franceses quando dizem que “a mulher escolhe o homem que a escolherá”? Essas circunstâncias colaboram com 15%, também, para o êxito final. A Igreja, por sua vez, procura emprestar sua colaboraçãozinha. Enquanto em algumas religiões existem os “conselheiros matrimoniais”, chamados pela família para casaram os filhos, não rato também os padres são convidados a indicar uma moça séria (ou um rapaz honesto, no caso inverso) para apresentar ao pretendente. Um padre católico notabilizou-se no Rio pelos seus cursos de “psicologia a serviço do amor”. Namoros iniciados entre vizinhos, ou devidos à apresentação de familiares, contribuem com 11 %., mas uma grande parcela deve o começo do namoro e o eventual casamento aos locais de trabalho. Aí, os encontros são mais frequentes, os favores recíprocos: um cinema, um convite para jantar. As mulheres costumam utilizar-se do expediente. Segundo Geneviève Gennari conta em seu livro Dossiê da Mulher, uma secretária ocupou 35 postos diferentes num único emprego, durante seis meses, com o propósito exclusivo de encontrar marido. As faculdades e locais de estudo são cenários mais frequentes para estabelecer sólidos conhecimentos. A jovem que faz o vestibular de Direito, Sociologia ou Filosofia, talvez pense mais no futuro casamento com um colega do que, propriamente, num diploma de pouca serventia. Um “Manual do Universitário” que circula entre nós diz, em certo trecho, que os comunistas conhecem esse fato. Por isso, se deixam “agarrar” para um namoro na esperança de obter mais um voto para as suas ideias. Está claro que o desejo do “Manual” é alertar as jovens universitárias casadeiras. Quando a idade surgir, pegando a mulher ainda solteira, ela então viajará, na esperança de novas amizades em locais diferentes.


PROCURAR MARIDO JÁ VIROU ATÉ ANÚNCIO DE JORNAL


Outras se desesperam. Um jornal carioca especializado em classificados anunciou há pouco: “Senhora só procura senhor de idade, discreto e honesto, para manterem relações de amizade e, talvez, casarem-se. Intenções sérias. Escrever para...” As agências matrimoniais contribuem com apenas 2%.


O DRAMA AINDA É CEDER OU PERDER


A jovem sabe o valor que o latido dá à virgindade, que alguns chamam de vício mórbido: seria a himenolatria. Mesmo assim, ela será quase sempre posta ante o dilema de ou fazer concessões ou perder o namorado. Os famosos “casamentos na polícia” são frutos de uma tática tradicional que, não rara, dá resultados, mesmo que os riscos sejam grandes para a ex-donzela. Muitas jovens sabem que a lei brasileira (mais precisamente, o Código Penal, Artigo 217) protege as menores de 18 anos, e fazem disso uma arma para o casamento. Entregam-se ao namorado na ilusão de que este reparará o mal. Se não o fizer, existe a ameaça de quatro anos de cadeia. Mas, no caso, quem seduziu quem? As que pensam um dia utilizar-se do expediente tomem cuidado. O Ministro Nélson Hungria, com seu projeto de reforma penal, quer reduzir para 16 anos a minoridade da mulher.


A MÁQUINA CRIA UM CASO AMOROSO


“O casamento pode ser eletronicamente arranjado, com a eliminação quase completa das probabilidades de equívocos na escolha do par, e resultar numa união duradoura, onde inexistiam diferenças irreconciliáveis” - promete uma agência matrimonial em São Paulo, que vai empregar o cérebro eletrônico para ajudar moças e rapazes. Tudo começou nos Estados Unidos, quando a IBM criou o Selectron, máquina “colocada a serviço da felicidade conjugal” por “destinar-se a promover o encontro de duas metades que se completam e poderão por termo à inflação de divórcios”. No cérebro são depositadas milhares de fichas, e o interessado, por apenas 3 dólares, preencherá a sua própria. A máquina então indicará qual a pessoa do sexo oposto que mais combine com o seu caráter. Será a ideia razoável? Quer dize, então, que o amor tradicional, o flerte, a agradável tática de lisonja, tudo isso acabará? O amor, então não será mais “o fruto que nasce geralmente de uma simpatia, que leva ao namoro, época importante para que ambos cheguem a conhecer as características psicológicas e morais, ideias e gostos do futuro cônjuge”, conforme definiu o Padre Simon Liu, do Instituto de Pesquisas, Orientação, de São Paulo? A dar-se crédito aos entusiásticos defensores de uma “cibernética romântica”, a ideia parece ser o caminho do futuro. Mas nos Estados Unidos as mulheres já estão liderando uma campanha de âmbito mundial contra o cérebro. Acusam os homens de “irracionais”: quanto mais velhos, mais exigem companheiras menores de 20 anos, marginalizando as mais adultas.




A VELHA BOSSA DA CONQUISTA


Nem todas as jovens lerão Como Fisgar um Marido na esperança de que aconteçam com elas as mesmas situações dos personagens de H.E Bates. Mas, para essas, Verônica Dengel escreveu, há 20 anos, um livro até hoje muito disputado: Agarre seu Homem. Sem pretender ditar regras de conquista, a autora enumera uma série de fatores físicos que podem ser convertidos em vantagens. Diz: “Podemos afirmar com toda a segurança que as qualidades físicas muito contribuem para estimular o interesse inicial. Depois, a harmonia dos temperamentos, concordância de atitudes em relação às experiências de vida, admiração mútua e respeito pelas ambições e sonhos particulares.” Ela não dá conselhos do topo “antes de conquistá-lo, conquiste a família - a mãe, as irmãs tornando-as aliadas”, ou então “esconda seu temperamento briguento ao menos até o dia do casamento”, pois esse deve ser controlado e vencido pelo amor, não dissimulando. Nada de “esconder o jogo”, pois, além de conquistar o marido, é importante conservá-lo. Para isso ela enumera uma série de atrativos físicos: cabelo saudável, brilhante e sempre bem penteado; pele limpa, macia e lisa; maquilagem de aparência natural; sobrancelhas arqueadas e olhos descansados, vivos e brilhantes; dentes alvos; talhe bem proporcionado e busto ereto e firme. O vestuário deve proporcionar encanto e sedução, o andar, ser jovem e gracioso. Fumar - só se graciosamente, sem perda de qualquer encanto feminino. Beber - só com moderação, conclui. Finalmente, cabe uma advertência. Existem dezenas de “táticas usuais”, ensinando às mulheres e que os homens morrem de rir ao conhecer. Empregar uma “tática” preestabelecida pode tornar a jovem vulgar e reconhecidamente mal-intencionada. Sobretudo, não esquecer que o casamento é uma daquelas coisas em que não adianta arrepender-se, querer retroceder: nada voltará a ser como era.


O RETRATO DO CAÇADO


Se você tem olhos azuis, lábios médios usa bigodes, é mais ou menos gordo, tem ombros inclinados e rosto redondo, medindo menos de 1,65 m, provavelmente não será caçado tão amiúde,, pois esse é o tipo físico menos preferido das mulheres brasileiras. Ao ser inquirido por qual tipo feminino daria sua preferência, o homem em geral é vago, pensa em determinada mulher e opina: magra, rosto oval, pernas longas, olhos azuis e morena, de voz profunda. Enquanto que, para a mulher, o tipo ideal de homem é aquele formado pelos olhos de um, porte de outro, altura de um terceiro. Eis os tipos físicos preferidos pela mulher, segundo uma amostragem recolhida em São Paulo: 67% preferem o tipo de peso médio e 21% o magro; escolhe o seu entre aqueles que meçam entre 1,65 m e 1,75 m (é o realismo brasileiro): fora dessas medidas, as preferências caem para 33% (mais de 1,75 m) e 8% (menos de 1.65 m). Os ombros devem ser retos (82%), o rosto oval (76%), os cabelos negros (62%) - os castanhos são preferidos por 28% das consultadas e os louros por apenas 6%. Mas os olhos castanhos são os mais exigidos (43%), enquanto os olhos negros recebem 27%, os verdes 19% e os azuis 8%. Os lábios devem ser grossos e, sobretudo, não usar bigodes. Já quanto às qualidades intelectuais e morais, a maior preferência está com os homens sinceros (72%)., mas os alegres também são disputados (52% os aprovam), e os caprichosos - embora estranho - são aceitos por 50% das mulheres. Poucas se interessam por modéstia, caridade, sociabilidade, romantismo, intelectualismo, ambição, expansividade e boêmia. Escolher o namorado certo não mais apenas um problema de coração. Os cérebros eletrônicos já foram requisitados. O amor é uma questão de cálculo.

* FATOS & FOTOS. Brasília, 27 de novembro de 1965

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