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Vanio Coelho

VANIO COELHO

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Qualquer profissão não serve

Atualizado: 22 de set. de 2019



Quase 30.000 profissões já foram catalogadas até agora e, no entanto, milhões de jovens, no Brasil, chegam aos 21 anos sem optar por nenhuma delas. Dúvida, receio, pouco conhecimento e nenhuma orientação os levam a hesitar sobre o que fazer, para profissionalizar-se. E as empresas comerciais, diariamente, recebem milhares de pedidos de emprego, mas não sabem como aproveitar essas ofertas. Mais que nunca, quando o país procura ingressar na era da técnica e do computador eletrônico, os exames psicotécnicos de seleção e orientação profissional, são uma esperança para esses milhões de jovens, para atingir a fórmula muita produção-baixo custo. Ruth M. tem 18 anos, parou de estudar quando cursava o segundo ano clássico e, como milhões de jovens na sua idade, não sabe que profissão escolher. Sua irmã mais velha acaba de ser reprovada num “teste psicotécnico”, que ela mal compreende: foi aprovada nos exames preliminares num concurso de banco, e considerada apta, mas o teste de personalidade revelou-a incapaz para a função. Ruth teme que venha a suceder-lhe os mesmo e, como ainda é jovem, procura logo fazer testes que lhe revele a vocação e lhe indiquem uma profissão. Para isso ela procura um instituto de orientação e seleção profissional, entre tanto que existem no Rio - ITOS, ISOP, TED, COPPA, CANTAP, EXECUTIVES, PLACE, que, com equipes constituídas de psicólogos, psiquiatras e orientadores profissionais, podem lhe oferecer a ajuda requerida.


PORQUE OS TESTES SÃO IMPORTANTES


Quando ela entra na sala de entrevistas é atendida por um senhor de óculos, que procura explicar-lhe como são feitos os testes de seleção e o que revelam. “Trata-se”, diz esse, “de um pro- cesso científico capaz de colocar a pessoa certa no lugar certo. Você deve saber que cada indivíduo tem características físicas, morais e psicológicas próprias que o diferem dos demais. Como não é possível padronizar os homens, é necessário selecioná-los devidamente, para o desempenho de diferentes tarefas ou então orientá-los para as funções que mais se entrosem com sua personalidade, que é o seu caso. A seleção não significa, algumas vezes, a escolha daqueles que revelem melhores aptidões: o nível mental mais elevado nem sempre é o mais indicado. Veja, por exemplo, as profissões rotineiras como de faxineiro ou ascensorista: empregue uma pessoa de desenvolvimento mental elevado e ela se sentirá desajustada.” O secretário da organização segue lhe explicando: uma seleção atende sempre aos interesses de empresa consulente, fazendo um levantamento da capacidade, aptidões e demais requisitos, específicos para a função a preencher; a orientação vocacional visa o bem-estar e o êxito do indivíduo, levantando todos os requisitos ou atribuições para depois reuni-los em áreas, indicando qual o setor de atividades, em que poderá ser mais bem sucedido. Como a orientação vocacional exige mais tempo - a simples seleção poderá ser feita em duas horas - Ruth deverá voltar várias vezes, e será examinada, durante 12 horas ou mais, por dois psicólogos e, se for necessário ainda, por um psiquiatra.


“FICAR RICO E SER PODEROSO”


No dia seguinte à hora marcada para a primeira entrevista, Ruth é posta diante de um senhor calmo e de voz simpática, que logo lhe conquista a confiança. É o Professor Carlos Torres, um dos psicólogos do Instituto Técnico de Orientação e Seleção, largamente experimentando em psicologia profissional. Para que Ruth compreenda bem os testes a que vai se submeter, ele faz uma dissertação sobre vocação, profissão e remuneração. Lembra as críticas de Mira y López, ao tempo em que dirigia setor especializado na Fundação Getúlio Vargas: “Situados em um observatório estratégico, onde temos oportunidade de pesquisar os motivos que levam anualmente milhares de jovens a escolher sua profissão, assistimos decepcionados ao espetáculo de uma maioria inteiramente desorientada e despreocupada, não dando ao problema capital de descobrir sua vocação a menor importância. Ou, no melhor dos casos, tratando de resolvê-lo por palpite.” E continua, citando ainda Mira y Lopez: “O que prevalece na motivação profissional do jovem de hoje nas grandes cidades não é a satisfação que se possa obter no trabalho, nem sequer o serviço que com ele se possa prestar à sociedade, mas apenas o resultado econômico e o prestígio social por ele conferido: ficar rico e ser poderoso, ter sucesso e levar o quanto antes uma vida fácil, de prazeres e diversões. O termo vocação significa convite, mas são poucos os que o diferem de interesse e conveniência, infelizmente.” A seguir, o professor Torres explica como serão feitos os testes de seleção e orientação vocacional. Para a seleção seria feita a analise da função a ser preenchida, com a finalidade de pesquisar os requisitos indispensáveis ao bom desempenho da função. Não se trata de examinar todos os requisitos, mas semente aqueles que prognosticam i êxito na função. São escolhinhos os testes que medem os requisitos e ao conjunto dá-se o nome de bateria. Sua aplicação não é feita de imediato, pois é um trabalho demorado.


RISCOS DEFINEM A PERSONALIDADE


Duas orientadoras acompanham Ruth a uma sala própria, onde ela é submetida a vários testes. Primeiro preencherá fichas onde escreverá os resultados de problemas gerais propostos, que revelarão seu grau de inteligência. Passará depois pelo PMK - isto é, traçará riscos em varias direções, com os olhos tapados. Isso revelará um traço de sua personalidade - timidez, desembaraço, etc. Mas a personalidade é um complexo de conhecimentos e lembranças, de receios e esperanças. Para isso ela deverá fazer desenhos de figuras humanas e árvores. Se surgir algum paradoxo, ela será encaminhada a outro psicólogo ou a um psiquiatra (casos patológicos). O professor Wilson Sargentelli, outro psicólogo do ITOS, recebe-a em sua 91 sala, outro dia. Ruth já preenchera vários testes e, agora, entrava em contato com o segundo psicólogo. O Dr. Sargentelli explica-lhe sua função: “Utilizamos testes de aptidão geral e especial, de capacidade, de conhecimentos e de personalidade. Os testes de aptidão, que você já fez, destinam-se a avaliar sua possibilidade de progresso e de produtividade. As provas de personalidade destinaram-se a conhecer sua provável conduta e adaptabilidade, mas vamos agora ao último teste. Trata-se dos testes dos borrões, também chamados de Z, ou de Roschach, devido ser esse o nome de seu inventor, um psiquiatra suíço, que o utilizou com êxito por muito anos, a partir de 1921. O borrão não representa, de imediato, qualquer figura ou imagem, e a interpretação que você der virá de dentro de você mesma. Como no caso de quadros de figuras de pessoas, onde se conta uma historia pessoal, esse método também é chamado de projetivo, já que você vai projetar alguma coisa de seu subconsciente. Você vai me dizer o que cada um desses borrões lhe lembram, no geral e nas particularidades. Não receie nem omita detalhes. Isso será muito útil para que possamos sentir sua personalidade, e a prever se ocorre algum desvio com você. No final você receberá o laudo.” Ruth esta interessada e curiosa. Olha o primeiro desenho e “vê” máscaras, macacos, índios, couro secando, etc. No segundo volta a “ver” índios dançando, pessoas em movimento. No terceiro revela um pouco de agressividade, ao ver “búfalos em luta”, mas sua ternura se trai ao “notar” peixinhos azuis nadando em direção contrária”. O Professor Sargentelli está satisfeito e a libera por ora. Ruth deverá voltar na semana seguinte, quando receberá o parecer dos psicólogos. Segunda-feira, cedo, Ruth volta no mesmo horário. Ela vem entusiasmada e ao mesmo tempo com receios. Ate aqui ela não sabe ainda o que revelaram seus testes, que profissão indicarão.





“VOCÊ PODE SER RECEPCIONISTA”


Recebe-a novamente o Professor Torres, para a última entrevista. Os dois conversam longamente sobre varias profissões, vocação, aptidão, etc. Ao final, o psicólogo lembra a utilidade dos testes: “Praticamente todos os setores se beneficiam com a seleção e com a orientação vocacional correta. Foi durante a I Guerra Mundial que, pela primeira vez, pensou-se em fazer testes de seleção. Nessa ocasião foram selecionados e orientados nas diversas funções militares, dois milhões de homens para o exercito norte-americano, com resultados surpreendentes. A partir de então, a indústria e o comércio se interessaram também pelo problema. Atualmente empresas prós- peras que funcionam na base do empirismo constituem exceção, e somente persistem quando as condições de funcionamento são de tal forma favoráveis que os erros cometidos nesse campo não chegam a comprometer o conjunto. Como as circunstancias atuais do país, exigem um ajustamento de produção e custo, ou seja, aumentar a produção com menores custos, a seleção de novos empregados e a reclassificação dos já existentes tornou-se necessária, visando uma maior produtividade. “Nossa missão não é só selecionar os empregados remetidos por varias empresas, como também recrutá-los e encaminhá-los a empregos diversos, ou orientá-los para uma profissão”. - Mas e o meu caso? - pergunta Ruth, ansiosa. - No seu caso nós a identificamos com uma profissão. Você pode procurar aperfeiçoar-se, ou ser encaminhada a uma das muitas oportunidades oferecidas diariamente a dezenas de jovens normais e aptas como você. Seus testes revelam uma inteligência muito boa, ocorrendo o mesmo com relação às aptidões especiais e destreza manual. Suas aptidões visuais e numéricas podem ser consideradas boas. Os traços de personalidade mostram muito bom nível mental, muito bom contato social e humano. Você se expressa bem, embora revele uma agressividade controlada. Como parecer, posso afirmar que você esta apta a exercer funções de contato com o publico, como secretaria e recepcionista. Com algum treino poderá exercer funções de maior responsabilidade. Agradecendo ao psicólogo, Ruth M., secundarista, de 18 anos, ótima aparência e ótima apresentação, deixou a sala das entrevistas, tomou um táxi e foi para casa. Estava feliz, pois não fa- zia mais parte daqueles milhões de jovens que não conseguem - ou não procuram - uma resposta para a grande pergunta: qual profissão escolher?


QUAL É A SUA PROFISSÃO


O Professor Mira y López, que dirigiu durante anos o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getulio Vargas, enumerou algumas qualidades para certas profissões, como: ADMINISTRADOR - Inteligência equilibrada nas funções de análise e de síntese, caráter enérgico, porém sereno, capaz de adotar táticas convenientes. ADVOGADOS - equilíbrio entre a capacidade de avaliar e criticar as ações próprias e alheias, paixão pelo descobrimento da verdade; temperamento calmo. AGRÔNOMO - espírito educador e missionário, ascetismo e paciência e mais de entusiasmo e energia. ARQUITETO - aptidão normal para trabalhos ligados à matemática, à física, à higiene, ao desenho; gosto estético, capacidade de combinar cores. AVIADOR - interesse em fugir a monotonia da vida em terra; excelente saúde física e mental; condições sensoriais extraordinárias. DIPLOMATA - extraordinária inteligência, com equilíbrio nos aspectos analíticos e sintéticos, imaginativos e críticos. Saber falar e calar quando útil. ECONOMISTA - inteligência analítica; razoável nível de habilidade para a computação e os cálculos numéricos; saber interpretar aspectos sócio-políticos. ENGENHEIRO - notável capacidade de compreensão físico-matemática e habilidade para o desenho técnico; deve produzir mais e melhor, com a tecnologia. FÍSICO - vocação que surge na adolescência, quando se estabelece contato com as grandes forças da natureza, quando se sente tendência às investigações. MÉDICO - gostar de meditar, de agir, de experimentar, sanar, curar, prevenir, etc. Não se intimidar diante da morte, mas desejar recuperar vidas e saúde. MESTRE - possuir paciência e serenidade, generosidade sem limites, plasticidade empática que lhe permita imaginar como percebe o aluno seus ensinamentos. RELIGIOSO - aquele que dedicar sua vida a Deus terá que renunciar completamente aos modos de pensar e fazer que caracterizam a vida da maioria de seus semelhantes.


* FATOS & FOTOS. 21 de janeiro de 1967

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