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Vanio Coelho

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Quem malufica se trumbica 

Poucas alegrias foram proporcionadas à minha geração, como o prazer de ver ainda adulto, consciente e livre, uma Nação se reencontrar consigo mesma. Poucos políticos brasileiros conseguiram chegar tão perto de uma repulsa tão unânime como o deputado Paulo Maluf, candidato do PDS à Presidência da República. Se a Nação não o repudia por inteiro, representantes de todos os seus segmentos já se manifestaram. Seja no “slogan” de Ziraldo (“Sorria Brasil”), seja nos versos inspiradores de Chico Buarque (“O Meu Povo Já Pode Sorrir”), a verdade é que o consenso em torno de Tancredo Neves vai se polarizando de tal forma que vamos chegar a 15 de janeiro - dia da eleição do futuro Presidente da República - sem vencidos nem vencedores. O que pode ser decepcionante para a opinião pública, que joga toda sua fé futura e alegria de hoje numa mudança a partir de 15 de março, dia da posse do novo Presidente. As adesões chegam a preocupar. Afinal, como candidato de conciliação nacional, numa consequente transição indolor, veríamos no futuro governo os mesmos nomes de sempre. Não se caracteriza, com isso, um novo governo. Ou, quanto mais se muda é a mesma coisa.


Mas não era isso que esperava o PMDB, com o apoio da Frente Liberal, quando formaram a Aliança Democrática, apoiando a candidatura de Tancredo Neves, que relutava em abandonar o mandato de governador de Minas Gerais. O que se pode fazer, contudo, quando o outro candidato, acreditando-se ainda nas trevas ante-Abertura, jogava toda sua habilidade no Colégio Eleitoral e seus 686 privilegiados eleitores, afrontando todo um país? Mas o povo foi esclarecido por uma série de atitudes: a) a mobilização pelas Diretas-Já; b) a arrogância incorrigível do deputado Maluf e de alguns membros de sua equipe; c) a mobilização dos governadores que se descobriram traídos quando da Convenção do PDS em agosto, que defenestrou o preferido Mário Andreaza. E se sentiu motivado a patrulhar seus representantes no Congresso (vide a votação das Diretas-Já, em abril, que revelou a elevada sensibilidade de muitos parlamentares), a apoiar e cobrar apoio para o candidato das oposições, que, com os votos dos dissidentes do PDS, passou a ter chances reais de vitória, e evitar as greves políticas, tão comuns em 1963/64, para não ver suas bandeiras manipuladas. Por parte do candidato Maluf, ajudou a enterrá-lo: a) a festa mambembe da Convenção Pedessista, onde um país esfomeado e em crise, assistiu a uma verdadeira orgia romana (cuja fatura seria paga pelo próprio povo, quando os festeiros se apossassem do poder); b) a nunca convincentemente negada corrupção na convenção e no Colégio Eleitoral; c) o desespero com propostas casuísticas como “voto fiel”, “fechamento de questão”, “voto lacrado”, “voto manuscrito sem identificação”, mandato-tampão, diretas logo mais (daqui a 2 anos, em 1986), Diretas já, etc etc. Na “boca livre” oferecida aos artistas sem prestígio, Chacrinha também presente, buzinava e exultava que “Quem não Malufica se trumbica”. Triste fim de carreira para um Velho Guerreiro, que se revela venal e alienado. Venal porquê, como os demais artistas (Agnaldo Timóteo, Jece Valadão, Hebe, Monsueto, Mussum) que ali compareceram, recebeu 20 milhões de cruzeiros. E alienado, pois é justamente o contrário. Jamais o povo se mostrou tão unido como nestas eleições.

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