O que faz as pessoas assistirem a um filme, mesmo gratuitamente, como acontece com as cópias piratas de “Tropa de Elite” e sentir identificações?
Pesquisa da Folha de São Paulo diz que 17 milhões de pessoas assistiram à cópia pirata do filme, que só foi lançado nacionalmente dia 12. Há que se duvidar desse número, afinal nenhum pesquisado gosta de admitir o “não sei, não vi, não fiz”. Embora o filme misture policia e bandido, “gente boa” e gente má, abusos e até tortura dos dois lados, pois até Friedrich Nietzsche foi invocado para compreender e explicar o fenômeno: quem combate monstros deve tomar cuidado para não se tornar, ele próprio, um monstro. Pois até os que não assistiram ao filme ficam ávidos para conhecer um pouco sobre o filme mais visto e discutido no país: que tipo de sociedade, afinal, criou-se no Rio de Janeiro, onde os bandidos são protegidos por políticos e por policiais e a população vive encarcerada nos condomínios e que se propaga para todo o restante do país?
É verdade que, no Rio de Janeiro nenhum apartamento, nenhuma casa, fica a mais de mil metros de uma favela. E é nas favelas que a bandidagem substitui o Estado na prestação de pequenos serviços – além da ameaça real e ostensiva – para obter a cumplicidade do cidadão desprotegido, abandonado, assustado, erradicado, sem raízes, quase sempre sem emprego fixo para sempre.
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