top of page
Vanio Coelho

VANIO COELHO

Para acessar os textos do livro "Vento Sul - Velho Vento Vagabundo", escolha uma das opções abaixo!

Artigos & Reportagens: Bem-vindo
Artigos & Reportagens: Blog2
  • Foto do escritorVanio Coelho

Ai de ti, Floripa




No começo era apenas o mar e eu: entre o oceano e a casa de meu pai só tinha a vegetação típica de areia, as dunas e o marulhar das águas. Aí vieram os homens e construíram o primeiro quiosque; não liguei, pois ali se comprava gasosa, chiclete e picolé. Depois plantaram algumas casuarinas: gostei, afinal quebrava a monotonia daquele horizonte sem fim. E como não reclamei, construíram a primeira avenida, na verdade uma ruela por onde passavam alguns carros, cuidadosamente, evitando atolar na areia. Achava divertido, acreditava que era o famoso progresso. Depois passaram a construir casa de alvenaria do lado de cá da ruela: casas baixas, de um só pavimento mas com laje no lugar de telhado. Como ninguém protestou, cada proprietário foi aumentando para cima seu casebre, e começaram a surgir prédios de 2 e 3 andares. Daí para começar a construir do outro lado, entre a ruela e o mar, foi só aparecer o primeiro: os demais vieram com a fome e a volúpia com que os lobos se atracam ao animal ferido. Não ligava, pois então eu estava descobrindo novos valores como o futebol no morro, os jogos oficiais de domingo, o microfone, a narração esportiva, o jornalismo... Muita adrenalina para um guri de 12 anos, que nem sabia o que era mata atlântica, dunas, meio ambiente, preservação de espécies.


Que atire a primeira pedra quem nunca caçou coleirinho e canário ou atirou em pomba rola e quero-quero. E agora, ao rever a casa de minha infância, perdida entre espigões, viadutos, pontes, passarelas e lambadas eletrônicas, eu me pergunto: cadê o mar? Não que a casa de meu pai tenha se afastado ou o mar tenha ficado menor: é que entre os 2 espaços nada foi poupado pela fúria imobiliária. E ao vê-la assim tão desprotegida, sinto um amargor subindo pelo fígado e me cobro: onde estive esses anos que nada vi, nada disse, nada escutei? Ainda terei tempo de fazer alguma coisa por esta cidade-ilha?

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Vento Sul

Eis que surge o vento sul. Ataca por todos os lados, é frio, é grudento, é a prova de casaco, de lareira e de conhaque.

Eternamente Drumond

Alguns versos aqui publicados semana passada foram suficientes para que leitores atentos lembrasse que, vivo, Carlos Drumond de Andrade...

Muito além do rio

Aquelas arcadas eram suntuosas, mas nos pareciam assustadoras no primeiro dia da matrícula;

bottom of page