Nos anos 1960, o Brasil tinha Rio e Brasília como capitais. São Paulo era a "locomotiva puxando 20 vagões vazios" - os outros estados. Eram tempos ingênuos. JK voltaria do exílio em 1965, e a Copa do Mundo de Futebol, vencida em 1958 e 1962, também seria nossa em 1970. A Câmara não tinha mais do que 200 deputados, os senadores eram 63 e os políticos entravam pobres e saíam mais pobres. Trabalhavam de segunda a sexta e, às vezes, também nos sábados. Os vereadores ganhavam jetons por sessão e não se precisava agendar visita ao prefeito: a gente o encontrava na rua.
Stefan Zweig, o amargurado escritor austríaco que se seduziu com a tese do "maior país católico, negro e judeu do mundo", vaticinou um "Brasil país do futuro". Tínhamos consciência da tolerância, a ascensão dos lutadores e se desconhecia expressões como alpinista social. O Brasil tinha tudo para dar certo. O que deu errado?
Veio o golpe de 1964, perdemos a Copa de 1966 e, em 1973, ganhamos senadores biônicos e se escancarou o número de deputados federais. A Constituição de 1988 extrapolou: novos estados, milhares de municípios inviáveis, aposentadoria sem contribuição, greve de servidor público. O ambiente político se degradou.
Criamos o Congresso mais caro do mundo, com essa qualidade que a Polícia Federal, o Jornal Nacional e as revistas semanais denunciam a toda hora. Ninguém mais se indigna. Aos sábados, em Brasília, motoristas de políticos fazem fila nas bancas de revista para saber qual o escândalo da capa.
A propósito: em quem você votou para vereador?
NOTA escrita para coluna Cacau Menezes - Diário Catarinense - Florianópolis/SC
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