O leitor chega em casa cansado. Labutou a semana inteira, administrou suas dívidas, contornou a ameaça de desemprego, discutiu no trânsito, aborreceu-se com o chefe. Pega o velho chinelo, busca uma loura gelada ou um uísque e até, quem sabe, um champanhe francês que a queda do dólar tornou mais acessível que o nacional. Conversa com os filhos, pergunta pelas notas, dá um beijo na companheira, também ela uma lutadora e se refugia na TV a cabo ou na internet... Meia noite de sábado, vai dormir, cansado. É o merecido repouso do guerreiro. Só que não consegue dormir: caminhão de lixo na madrugada, desajustados do volante que buzinam porque um veiculo à frente parou para desembarcar alguém. E, lá pelas seis horas, é o danado do cão do vizinho, daqueles que correm atrás do próprio rabo. Afinal poucos sabem que não é permitido fazer barulho das 22 às 7 horas. De dia é buzina, bate-estaca, sirene e britadeira. De madrugada é motocicleta sem silenciador, discussão de bêbados, alarme de carros, “pegas”, a boate da esquina sem acústica... E aí ele pensa: por que vim para a cidade grande? Só que, no silêncio absoluto do campo, o simples cantar de um galo soa tonitruante como um alto-falante de estádio de futebol.
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