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Vanio Coelho

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O índio que queria ser presidente 

O “aculturado exótico” (na visão do Ministro Délio Jardim de Matos) Mário Juruna pretende chegar a Presidente da República. Já o “seresteiro” (ainda sob o ângulo do Ministro da Aeronáutica) Aguinaldo Timóteo é menos ambicioso: seus planos estarão realizados ao subir a rampa do Palácio Guanabara, como governador do Estado do Rio de Janeiro. Sobre a inabilidade dos dois a Nação sempre é informada. Timóteo, por exemplo, o mais votado deputado federal carioca (mais de 600 mil votos), considerar-se o responsável pela eleição de Leonel Brizola (e talvez seja, afinal a vitória de Brizola foi apertada, pouco mais de 30 mil votos de vantagem e, como o voto foi “casado”, ou vinculado, quem votou em Aguinaldo tinha que votar em Brizola ou em branco).


Mas a recíproca também é verdadeira: quem votou em Brizola teria que votar obrigatoriamente num deputado federal do Partido ou em branco; neste caso, por que não em Timóteo? A verdade é que Timóteo, num partido situacionista, não chegaria perto da votação que teve, caudatário que foi das queixas, decepções, frustrações e desmazelas do povo em sua condição mais simples e humilde. Mas a verdade é que logo depois os dois políticos romperiam (Brizola e Timóteo). Consta que Timóteo queria emprego para seus 30 cabos eleitorais e Brizola não teve habilidade de administrar o pedido. Daí que romperam e Timóteo, que nos fins de semana canta nas churrascarias cariocas, mediante cachês elevados, não perde uma oportunidade de atacar o ex-aliado. Reconhecidamente uma pessoa de cultura limitada e poucos recursos intelectuais (“Não concedo apartes para não me atrapalhar”, justifica- se quando não quer debater). Com isso perdeu a linha do bom tom e tem se desgastado muito: já foi expulso, em sucessivas instâncias, de seu partido e espera-se sua eliminação sem grau de recurso. E o nosso Juruna, que ficou quieto depois daquele desastrado discurso na Câmara, em que acusou todo Ministro de ladrão? A última é que foi almoçar numa churrascaria com amigos e pendurou a conta para que ela fosse cobrada no Palácio do Governo. Não é a primeira vez que nosso “representante das comunidades indígenas” (como o chama, pomposamente, o governador Brizola) dá uma dessas. Noutra ocasião, o governador estando ausente, Juruna ocupou a sala de despachos, sentou na cadeira do governador, deu “audiências” telefonando para os secretários estaduais atenderem os diversos pedidos verbais.


Não se deve contudo subestimar a capacidade de trabalho dos dois lideres. Juruna tanto fez que não só conseguiu a demissão do presidente da Funai como também a nomeação de dois indígenas aculturados em cargos importantes na política indigenista. Timóteo não abandonou seus eleitores, muito pelo contrário. Além de cantar nas churrascarias, está sempre presente, quando convidado, aos batizados, casamentos e outras oportunidades de compartilhamento. Recentemente tomou uma atitude louvável, embora de poucos resultados: liderou campanha de porta em porta para conseguir alimentos para os empregados da Companhia de Tecidos Nova América, que estavam com salários atrasados há vários meses. O que se depreende é que não são nenhum “Cacareco”, aquele hipopótamo que, em 1958, foi o mais votado em São Paulo para deputado federal.


Ou seja - esses dois podem ter sido eleitos por seu potencial folclórico - sem que eles se apercebam - mas devido a uma conduta dinâmica e sincera, de fazer inveja a político ambicioso e profissional, poderão vir a ser reeleitos, embora sem alcançar suas ambições maiores. Mesmo porque aqui ainda não é América, onde apesar da forte discriminação existem negros governadores, prefeitos, mulher governadora e candidatos negros e mulheres à presidência.


*Jornal da Cidade (Tubarão, SC)

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