O que se diz a um filho, arquiteto, 32 anos de idade, solteiro, carioca, contratado do escritório do mais renomado arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer, quando avisa:
- Pai, vou para Moçambique! ?
Quem de nós não teve vontade de, na juventude, pegar a mochila e partir estrada a fora, como dizia aquele meu colega de rua, o Heitor Cabeção, depois de uma aula sobre Entradas e Bandeiras, Fernão Dias Leme e turmalinas “sem valor”: “Vamos procurar esmeraldas por aí?”. Pois foi isso que se deu com Guilherme, meu filho do meio.
Antes, ele já tinha subido as escadas de Machu Pichu, não tomou banho do rio Ganges mas conviveu com indianos; em Berlim foi ajudante de cozinha e ator improvisado no curta LA BANDA LATINA, onde encarnou um traficante colombiano.
Com a cabeça certamente voltada para seu mentor, é um daqueles que querem usar sua profissão para algum feito útil à humanidade. E Guilherme encontrou, através dos “Médicos Sem Fronteiras”, uma Organização Não Governamental com atuação nos países mais pobres do mundo, seja na Ásia, África, América do Sul e mesmo da Europa. A ONG vive de contribuições populares e, como a Cruz Vermelha, não visa o lucro. Seus membros recebem uma ajuda de mil euros no país de origem e ajuda de custo no local de trabalho. Todo ano MSF envia mais de 2.500 médicos, enfermeiros e outros profissionais a mais de 80 países, onde cooperam com 15 mil profissionais locais. Tem 5 sedes e 14 escritórios regionais espalhados pelo mundo e aceita contribuição em dinheiro de particulares.
Guilherme inicialmente iria para a Ásia, a Armênia, mas um problema de agendas acabou lhe destinando Moçambique, no este africano, ao lado da ilha de Madagascar, onde se fala o português pois foi colônia lusitana.
Lá deve ficar em princípio um ano, coordenando a construção de hospitais de combate à AIDS e também na infra-estrutura urbana, para evitar que, na época das monções, águas contaminadas com vírus, como o ebola, contaminem a água potável.
Ao Guiga só posso lembrar os versos do Drumond:
Quando nasci, um anjo torto,
desses que vivem na sombra, disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
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