top of page
Vanio Coelho

VANIO COELHO

Para acessar os textos do livro "Vento Sul - Velho Vento Vagabundo", escolha uma das opções abaixo!

Artigos & Reportagens: Bem-vindo
Artigos & Reportagens: Blog2
Foto do escritorVanio Coelho

Verde rama 

Hoje vamos de Garcia Lorca (Verde que te quiero verde/ Verde viento/Verdes ramas...) para falar de um assunto recorrente na coluna: a defesa do meio-ambiente. Nosso centenário Colégio Catarinense, um dos mais sérios e queridos ícones da Ilha da Magia, instituição católico-educacional sem apego a bens materiais, conserva na Rua Esteves Junior um dos maiores patrimônios urbanos. Protegido da especulação imobiliária, é uma das poucas áreas verdes do centro. Seu campo de futebol, sempre verde e pouco usado, é também um colírio para os olhos de quem por ali tem a chance de caminhar. Tornou-se santuário de pássaros urbanos, como bem-te-vis, canarinho da terra, pardais, sanhaços, pombas rolas. Até um casal de quero-quero ali nidifica, toda primavera, criando cada ano seus 4 filhotes acompanhados pela garotada, que os protege. Mas, a cada verão, ao fazer a conservação, a firma de jardinagem utiliza- se de defensivos agrícolas que eliminam não só as ervas daninhas mas também os insetos, eliminando a fonte de alimento desses passarinhos. O alerta da coluna é para que a direção do Colégio, neste ano, proíba a utilização de agrotóxicos na recuperação do lindo gramado. E contabilize mais um crédito no coração de quem ama a cidade.


Veja a íntegra do poema de Federico Garcia Lorca: ROMANCE SONÂMBULO


Verde que te quero verde. Verde vento. Verdes ramas. O barco vai sobre o mar e o cavalo na montanha. Com a sombra pela cintura ela sonha na varanda, verde carne, tranças verdes, com olhos de fria prata. Verde que te quero verde. Por sob a lua gitana, as coisas estão mirando-a e ela não pode mirá-las. Verde que te quero verde. Grandes estrelas de escarcha nascem com o peixe de sombra que rasga o caminho da alva. A figueira raspa o vento a lixá-lo com as ramas, e o monte, gato selvagem, eriça as piteiras ásperas. Mas quem virá? E por onde?... Ela fica na varanda, verde carne, tranças verdes, ela sonha na água amarga. — Compadre, dou meu cavalo em troca de sua casa, o arreio por seu espelho, a faca por sua manta. Compadre, venho sangrando desde as passagens de Cabra. — Se pudesse, meu mocinho, esse negócio eu fechava. No entanto eu já não sou eu, nem a casa é minha casa. — Compadre, quero morrer com decência, em minha cama. De ferro, se for possível, e com lençóis de cambraia. Não vês que enorme ferida vai de meu peito à garganta? — Trezentas rosas morenas traz tua camisa branca. Ressuma teu sangue e cheira em redor de tua faixa. No entanto eu já não sou eu, nem a casa é minha casa. — Que eu possa subir ao menos até às altas varandas. Que eu possa subir! que o possa até às verdes varandas. As balaustradas da lua por onde retumba a água. Já sobem os dois compadres até às altas varandas. Deixando um rastro de sangue. Deixando um rastro de lágrimas. Tremiam pelos telhados pequenos faróis de lata. Mil pandeiros de cristal feriam a madrugada. Verde que te quero verde, verde vento, verdes ramas. Os dois compadres subiram. O vasto vento deixava na boca um gosto esquisito de menta, fel e alfavaca. — Que é dela, compadre, dize-me que é de tua filha amarga? — Quantas vezes te esperou! Quantas vezes te esperara, rosto fresco, negras tranças, aqui na verde varanda! Sobre a face da cisterna balançava-se a gitana. Verde carne, tranças verdes, com olhos de fria prata. Ponta gelada de lua sustenta-a por cima da água. A noite se fez tão íntima como uma pequena praça. Lá fora, à porta, golpeando, guardas-civis na cachaça. Verde que te quero verde. Verde vento. Verdes ramas. O barco vai sobre o mar. E o cavalo na montanha.

9 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Vento Sul

Eis que surge o vento sul. Ataca por todos os lados, é frio, é grudento, é a prova de casaco, de lareira e de conhaque.

Eternamente Drumond

Alguns versos aqui publicados semana passada foram suficientes para que leitores atentos lembrasse que, vivo, Carlos Drumond de Andrade...

Muito além do rio

Aquelas arcadas eram suntuosas, mas nos pareciam assustadoras no primeiro dia da matrícula;

Comments


bottom of page